Em um roteiro muito conhecido, da mesma forma que a reforma Trabalhista aprovada em 2017, durante o governo de Michel Temer (MDB), com o argumento mentiroso da geração de 6 milhões de empregos, também a reforma do ensino médio trazia a justificativa de tornar a escola um ambiente mais atrativo.
Na prática, porém, as mudanças na etapa escolar implementadas a partir de 2022 com a aprovação da Lei nº 13.415/2017, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, não cumpriram a proposta de fazer da sala de aula um espaço mais dinâmico e nem de oferecer alternativas aos estudantes que buscam uma preparação técnica voltada ao ingresso no mercado de trabalho.
Com as modificações implementadas, disciplinas básicas como Física, Química e Biologia foram reduzidas. O resultado foi o aumento da evasão escolar e um cenário em que apenas 15% dos estudantes brasileiros com idade acima de 16 anos afirmam estar na escola, conforme apontou pesquisa do Sesi e Senai (Serviço Social da Indústria/Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), em parceria com o Instituto FSB Pesquisa.
A secretária de Assuntos Educacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Guelda Andrade, avalia que a pandemia de Covid-19 contribuiu para aumentar o abandono, mas afirma que o Novo Ensino Médio foi fundamental para intensificar o desinteresse pela escola.
Segundo aponta, o Novo Ensino Médio é incapaz de formar o estudante para a vida e para o mercado de trabalho, o modelo ajudou a expulsar quem já sofria a pressão de trabalhar para ajudar em casa.
“Além do coronavírus, há outros fatores impactantes para esses números assustadores, como o Estado não pensar o conceito de acesso à escola associado ao tripé de garantia de matrícula e oferta de vagas, permanência e qualidade da formação oferecida”, explica Guelda.
Fator econômico
De acordo com a pesquisa do Sesi e do Senai, 57% das pessoas que abandonaram a sala de aula disseram fizeram não tinham condições de seguir ns escolas, e para 475, a necessidade de trabalhar é a razão principal.
O educador e cientista político Daniel Cara avalia que, diante de disciplinas pouco impactantes para a vida dos estudantes, a opção de trabalhar ao invés de concluir os estudos se torna um caminho natural.
“As famílias foram prejudicadas desde o governo Temer por uma medida econômica que afetou muito aos mais pobres e esse prejuízo acaba gerando necessidade dos/as estudantes ingressarem precocemente no mercado de trabalho. Eles sabem que não têm tempo a perder na vida com disciplinas completamente sem sentido. O que deveria ser algo para mantê-los na escola é tão equivocado e absurdo, na forma como foi construído e descontextualizado da rotina da escola, que gera evasão”, critica.
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